Rafael Galvão

Um pouco de nada, e nada de muito importante.

sábado, fevereiro 28, 2004

Igreja Rafaélica de Todos os Tostões

         Eu tenho um sonho.
         Não é um sonho onde as pessoas não sejam julgadas por sua cor, porque esses sonhos bonitinhos eu deixo para o Luther King .
         Meu sonho é fundar uma igreja.
         Ela já tem até nome. Igreja Rafaélica de Todos os Tostões. Tem também um slogan: "A salvação a preços módicos".
         E antes que as más línguas venham falar de eventuais semelhanças com a igreja do Bispo Macedo, vou avisando que não há nenhuma. Para começar, eu serei cardeal. Cá para nós, "Cardeal Galvão" soa bem.
         A obreiros e fiéis, a Igreja Rafaélica de Todos os Tostões oferecerá a salvação. Você nos dá o seu dinheiro -- inclusive aquele que você guardou na meia, pão duro safado; pensou que podia esconder dinheiro do Pai? -- e nós lhe damos a salvação. É justo. A salvação de sua alma pecadora vale mais que o dízimo. E se você não aprendeu a dar, como espera receber? Primeiro a gente mete a mão no seu bolso, depois te mete no Paraíso.
         Os céticos, essa raça ímpia incapaz de ver a pureza e a verdade d'alma, podem alegar que Jesus oferece a salvação de graça. É. Pode ser. Mas na Igreja Rafaélica de Todos os Tostões você fala com o dono, cara a cara, olho no olho. Você quer falar com Jesus pessoalmente, quer? Pois é. Achei que não. A Igreja Rafaélica de Todos os Tostões oferece a salvação com certificado de garantia -- e se você não a conseguir, pode voltar do Além e falar com o Cardeal Galvão que ele te dá o dinheiro de volta.
         Mas nem só dos assuntos de Deus a Igreja Rafaélica de Todos os Tostões se ocupará. Porque somos evangélicos mas temos algo de católicos, e acreditamos que a obra do Senhor se realiza aqui, quando estendemos a mão aos nossos irmãos carentes e os ajudamos a seguir em frente com dignidade. As boas ações é que nos levam ao Paraíso.
         A Igreja Rafaélica de Todos os Tostões se dedicará à santa obra de ajudar aqueles menos favorecidos pela Providência, aqueles a quem precisamos dar as mãos no esforço de criar um mundo mais solidário.
         E nossa obra social começará por mim. E não venham vocês alegarem que é malandragem, porque não é. Como você espera que o Cardeal Galvão se dedique à evangelização se tem que se preocupar com coisas de somenos importância, como a sua sobrevivência com um padrão mínimo de dignidade?
         A nossa obra social começará por mim porque eu ando carente.
         Eu ando carente de um Jaguar, com motorista surdo-mudo.
         Eu ando carente de um apartamento pequeno, coisa de 300 m2, no Faubourg Saint Germain. E de outro, ainda menor, na Via Vêneto.
         Eu ando carente de um Lear Jet.
         Eu ando carente de uma casa na Riviera Italiana (com vista panorâmica para o Mediterrâneo porque eu preciso de um ambiente bucólico para pensar em tão espinhosos assuntos teológicos; aquela que aparece em "A Condessa Descalça", com sua praia particular, serve) e de um castelo no Vale do Loire, daqueles que já vêm com título de nobreza.
         Cacete, eu ando carente de tantas coisas que só de pensar nelas dá vontade de chorar.
         E é tão pouco.
         Por isso a Igreja Rafaélica de Todos os Tostões. Porque precisamos estender as mãos uns aos outros. Precisamos de um mundo mais justo, e o Cardeal Galvão é o líder que vai nos levar em direção à Luz -- e, graças às suas contribuições, agora sem que a Light a corte por falta de pagamento.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home