Rafael Galvão

Um pouco de nada, e nada de muito importante.

quinta-feira, fevereiro 26, 2004

Mais uma brilhante teoria rafaeliana

Como você já deve ter notado, eu tenho um passatempo desajuizado. Consiste em contradizer teorias elaboradas por gente mais preparada que eu, gente que dedicou horas infindáveis a estudos e pesquisas sobre o assunto, usando pouco mais -- ou pouco menos -- que o senso comum.

Senso comum é uma coisa perigosa. Foi ele que fez com que acreditássemos por milênios que a Terra era o centro do universo, quando não era sequer o centro de um sistema solar de quinta ou sexta grandeza.

Essas contra-teorias que elaboro surgem do nada, talvez pelo que muita gente identifica como uma forte tendência minha de "ser do contra".

Por exemplo, li há algum tempo, em algum lugar, que uma pesquisadora chegou à conclusão de que o português falado hoje no Brasil era mais parecido com o falado em Portugal em 1500 do que o que se fala por lá agora.

Segundo ela, o Rio só sujaria os ss porque, depois de séculos isolada, ainda falando como se falava em Portugal 3 séculos antes, foi invadida pelo "novo português" em 1808.

Eu discordo.

O Brasil sofreu mais influências linguísticas do que Portugal. Houve os índios, em primeiro lugar. E os grandes responsáveis pelo estabelecimento do português como língua nacional foram os escravos africanos, que divididos em uma série de nações e idiomas foram obrigados a utilizar a língua do opressor. Sem contar os muitos imigrantes de nacionalidades diversas, que variavam de acordo com a região -- italianos em São Paulo, alemães no sul, espanhóis na Bahia.

O mais provável, pela lógica, é que o Brasil tenha sofrido mais influências desses falares diversos do que Portugal.

Uma das evidências de que o português brasileiro foi o mais modificado está no fato de que as únicas cidades litorâneas (não se deve esquecer que o Brasil, até há pouco tempo, só existia de verdade no litoral) que sujam os ss -- como os portugueses -- são o Rio, Salvador e Recife; duas delas falam "dje". São justamente essas que mantiveram maior contato com Portugal ao longo da história colonial. O Rio sujaria mais porque foi invadido por Dom João e seus sicofantas, sofrendo uma espécie de volta às raízes.

Assinado: Rafael Houaiss, seu criado.

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