Ria com ela
Há uma certa graça no jeito como as pessoas vão ao cinema. Se é um filme bobo, elas se sentem autorizadas a gargalhar. Mas se é um filme que presumem "de arte", definição esdrúxula que eu não consigo entender, a coisa muda de figura.
Foi assistindo a um desses filmes que cheguei a conclusão de que, quando o assunto é arte, a maioria dos entendidos é um grande rebanho de ovelhas, que simplesmente seguem o que seu pastor diz. Se o pastor diz para saltarem de um precipício, elas saltam.
O filme é "Fale com Ela", de Almodóvar, em um cinema de Botafogo. Começa a cena de "El Amante Minguante". As pessoas parecem pensar que estão diante de "Um Cão Andaluz", e assistem ao sujeito entrando vagina monumental adentro com a reverência devida ao mais impenetrável hermetismo surrealista.
Eu sou o único no cinema a gargalhar. Porque aquela cena é para isso -- aliás, Almodóvar é para gargalhar, mesmo. Aqui e ali umas risadinhas acanhadas se manifestam. E se calam em um instante.
Era um rebanho muito circunspecto, aquele.
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