Rafael Galvão

Um pouco de nada, e nada de muito importante.

segunda-feira, fevereiro 09, 2004

A segunda Guerra de Tróia

As peças que a História nos prega. Não há nada mais cruel que ela.

Eu devia ter uns 8 ou 9 anos. Estava em férias na casa de minha avó e acabei dando de cara com um livro, provavelmente de alguma enciclopédia para jovens, que falava da descoberta de Tróia por Heinrich Schliemann. A partir desse dia Tróia me fascinou, a ponto de na pré-adolescência eu pensar seriamente em me tornar arqueólogo.

E uma das perdas que mais doíam em mim era a do tesouro de Príamo em 1936. Era terrível imaginar que aquele tesouro, conservado sob a terra durante séculos e séculos, de repente tivesse sido perdido por obra humana.

Toda a minha infância e adolescência foram passadas nessa crença.

E então, quando eu já tenho mais o que fazer, quando a única história que me interessa realmente é a minha, eis que em 98, acho, chega a revelação de que o tesouro tinha sido confiscado por Hitler e saqueado pela União Soviética. Para quem se interessar, atualmente esse tesouro está em exibição no Museu Púchkin, em Moscou, e é objeto de uma disputa diplomática entre Turquia, Alemanha e Rússia.

Não gosto que mexam no meu passado. Com o tempo me acostumei à idéia, e consegui ver nessa perda um certo lirismo fatalista. O reaparecimento do tesouro de Príamo era quase como uma segunda Guerra de Tróia, perdida como foi a primeira, quando achei que o tesouro estava desaparecido.

Por que eles ousam acabar com minhas crenças de infância?

Primeiro Papai Noel, depois Rock Hudson, e agora isso.

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